sábado, 16 de janeiro de 2021

Moça Triste

 

Para ela, nunca haveriam olhos mais bonitos que os dele,

De um castanho cobre, cor do sol quando se esconde no horizonte,

Sempre andara altivo, como se buscasse algo mais a frente,

Parecia indiferente ao que acontecia ao seu redor, mas não a enganava,

Sempre que ela buscava um esbarrão, ou qualquer forma de contato,

Mesmo sob o efeito dos sobressaltos do seu coração, ela ainda ouvia algo,

 

Algo que ele não ousava pronunciar, mas que estava guardado em seu olhar,

Era difícil controlar o sentimento que a envolvia, tornar-se neutra diante dele,

Daria para admitir que ninguém que estivesse sob o seu efeito, poderia resistir com classe,

E este ninguém a definira por inteira, aquele olhar que guardava uma dor tão aguda,

A estimulava, a incitava a se aproximar, mesmo que algo dentro dela sugerisse,

Na verdade, soava mais como uma alerta que repetia insistente: não se aproxime...

 

Mas, quem resistiria ao pôr do sol que acontecia sempre na mesma hora,

E que por sinal, de forma desproposital a colocava diante dele, sempre no mesmo lugar,

É certo que de instante a instante, seu olhar se desviava a procura de encontra-lo,

Estivesse ou não este alerta ligado dentro dela, o brilho daqueles olhos castanhos

Desviariam qualquer atenção, apesar de que ele nunca parecia estar onde estava,

Era como se fugisse de algo, e ela, ao seu lado, embora parada, sempre a procura-lo,

 

Naquele momento não desejara nada além de encontrá-lo, chegara a acenar,

Ele se aproximara um pouco, respondera com um sorriso gentil,

Ela sentira esse gesto com um vestígio de empolgação, então havia um meio enfim,

O provocara com um sorriso e um movimento de cabelos, ele parecera gostar disso,

Apesar da declaração ser um tanto sutil era verdadeira, só não saberia expressar

Se fora recíproca, ela estava acima de qualquer orgulho,

 

O desejava muito para se ater a coisas pequenas e banais como, joguinhos de conquistas,

Estava quase convencida de que o amava, então para que tentar fingir que não?

Ele aparentava ser um sujeito honrado, se não houvesse amor entre os dois,

Poderia existir algo diferente como uma amizade sincera,

E bons amigos sempre são bem-vindos, ela enxergava isso em seus cativantes olhos,

Aquela dor profunda que havia neles despertava uma vontade querer protege-lo?

 

Nunca entendia porque nos romances as mulheres nunca protegiam quem amavam,

Por que deveriam sempre serem elas as protegidas? Ela queria soar diferente para ele,

Ser algo que ele sentisse orgulho de lembrar, ser aquele talvez que ele parecia buscar ao longe,

Apesar de ele estar ali sozinho, de alguma forma sempre fizera parecer que não,

Isso a intrigava, se ele havia deixado alguém por que motivo havia feito isso?

Havia uma singela marca de aliança no dedo que sugeria casamento e percebia-se paixão

 

Enraizada dentro dele, fosse ele, viúvo, mesmo jovem, não teria removido o anel, teria?

Ele não aparentava ter uma idade muito superior à dela, ou mesmo ser um homem fraco

Do tipo que foge das implicações que atitudes como um casamento em idade precoce

Acarretariam no âmbito social; em um ímpeto de coragem, tentando afastar o medo

Do que uma aproximação repentina poderia ocasionar, ela limpara a garganta,

Buscava em si as palavras certas, mas não encontrara nenhuma, ele baixou a cabeça e saiu,

 

Ela, continuara parada, vendo a noite se aproximar... seus cabelos estavam despenteados

Em um ato de rebeldia, como se gritassem a ele seus conflitos internos,

Aos quais ele parecera indiferente, mas nem mesmo isso retirara a suavidade

Daquele rosto, cujo sorriso parecia uma flor a se abrir na brisa do amanhecer,

Sempre guardava aquele quê de esperança, ao qual ela se agarrava com toda a alma,

Seria muita imprudência da sua parte aproximar-se, mesmo sem haver convite?

 

Talvez, ele sentisse os mesmos conflitos que ela, e, ainda guardava aquele algo além,

Ela ficara lá com seu ar pensativo, na busca de encontrar uma saída que os unisse,

Veio a noite, como se a tomasse pela mão e a conduzisse de volta para a sua casa,

Ela simplesmente partira, quando caíra em si mesma se encontrava deitada em seu sofá,

Ainda a pensar sobre o quanto ele era bonito, com aquele sorriso convidativo,

Proposta demasiada irresistível para ela ousar questionar tudo aquilo que sentia,

 

Ela queria cuidar dele, mesmo sem um propósito definido, amava-o,

Mas estava disposta a deixar tudo que sentia de lado,

Somente para ajuda-lo no que concerne ao que o afligia,

De repente, os medos dele também a assombravam,

Havia algo que os unia, era inegável, com o tempo ele perceberia isso,

Talvez ele tivesse notado seu desconforto,

Quem sabe também procurasse uma forma de se aproximar,

 

Do contrário já teria encontrado uma forma de evita-la,

Ela não se sentia tão segura de si mesma,

Seu rosto já estava marcado pelo tempo,

E aquela marca no dedo dele, não lhe transmitira nenhum conforto,

Apesar de, seus sentimentos serem sinceros, poderiam não ser bem recebidos,

E se ele quisesse simplesmente distanciar-se de tudo e de todos?

 

Esse pensamento borrava o sorriso dela em um tom apático, quase oculto,

Será que ela conseguiria se manter afastada de tudo que sentia?

Receava que não, acreditava que não poderia se manter inerte ao amor,

Havia um muro feito de gelo entre os dois, que o ocaso estava a derreter,

Ela poderia sentir isso a cada vez que se viam, através dos gestos esparsos,

Ganhara um sorriso, algo havia mudado, ela acreditava nisso,

 

Sem querer adormecera onde estava, sem tomar banho ou trocar a roupa,

- Eu tinha 16 anos na época – ouviu-o ressoar em um tom baixo,

Que possuía uma doçura que parecia acaricia-la, como se entrasse nela,

Uma espécie de carícia aos seus ouvidos, ela não se ouviu dizer nada,

Então, acordara assustada, como se fosse extraída de algo estranho,

Mas não conseguia sentir-se, era como se ainda estivesse dormindo...

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