A noite tardava
A lhe trazer o sono,
A barriga palpitava
Sentia que era o dia,
Sem importa-se a data,
Seu filho viria.
Pegou o celular de sobre
A penteadeira,
Teclou o número da mãe,
Ela não atendeu,
Era tarde,
Talvez fosse madrugada.
Ligou para o esposo,
O telefone caiu na caixa postal:
- Por Allah, o trabalho
Do meu marido
Me cobra a vida,
Eu me vejo esmorecer
Em espera.
Otavia disse.
Cansada de ligar
E não obter resposta
Buscou o número de um taxista,
Ligou e o chamou a porta.
Pegou a bolsa
E mais nada.
Na chegada dos faróis acesos
Correu para o carro,
De ímpeto o coração deu
Dois saltos rápidos
E um atrasado,
Ela recordou de quantas vezes
O marido a buscou
Para saírem juntos se divertir.
Se viu em seu carro
Com um copo de vidro
Cheio de bebida
E o sorriso contagiante
Nos lábios.
Se viu beijando-o demorado,
O viu a abraçando forte,
Até que um vento frio
A retirou destas lembranças
E a fez descer as escadas
Até o táxi,
Então, ela pensou que talvez
Nunca mais o veria.
Olhou para trás,
Viu a porta aberta,
Voltou para tranca-la,
Retornou até onde estava.
Uma mulher saiu
E lhe abriu a porta.
- para onde?
Ela indagou.
-ao hospital.
Respondeu.
- irá sozinha?
A taxista olhou
Para sua barriga grande,
Se admirou de seus cabelos
Loiros e compridos,
Lisos caídos até as pernas.
Os lábios levemente rosados,
Parecia haver nela
Um sopro de vida,
Nada mais que isto,
Talvez, alguns dias.
Olhou-a atentamente,
Talvez, nem isso.
- e depois?
Indagou.
- eu a chamo se precisar,
Mas, talvez me demore.
Respondeu Otavia.
- e teu marido, mulher?
Otavia a olhou séria.
- por quê uma mulher
Que vai para o hospital
Precisaria de esposo?
A indagou.
Depois, pegou na porta,
Abriu-a mais um pouco
E entrou.
- é o que mais querem,
O pai do filho.
Você está grávida, não está?
Indagou Roxane,
Indo para a direção do veículo.
- estou, é uma menina.
Vanora.
Meu marido está longe,
Ele vai demorar para ver a neném.
Ela disse,
Olhando em tom distante
Para a rua que se abria solitária
A sua frente
Com poucas luzes,
E ninguém a frente.
- está certo,
Vamos.
Minha filha tem um ano,
Também é uma menina.
Roxane comentou.
Ligou o carro,
Colocou segunda marcha
E foi rápida.
-ser mãe é mais que um sonho.
Comentou Otavia,
Depois desmaiou.
Roxane olhou pelo retrovisor,
Se assustou
Parou o carro
O mais rápido que pode,
Então, saiu para fora
E correu até Otávia.
-acorde,
O que houve?
Otavia chorava silenciosa.
- acorde,
Acordei!
Qual hospital te levo
A qualquer um?
Qual seu nome?
De repente, Otavia
Abriu os olhos e começou
A gritar sem parar
E chorar sobre o banco.
Depois das contrações
Seu filho nasceu,
Era uma menina, realmente,
Fraca e frágil,
Pequenina sobre os braços de Roxana.
Roxana pegou a neném
No colo,
A menina abriu os braços
Cheios de sangue
Sem resistência ao carinho.
As crianças confiam
Com a mesma facilidade
Com que se assustam,
Sem que se saiba porquê,
Todavia, Vanora reagiu
Com tamanha fragilidade
Que parecia querer
Estar ali para sempre
Como se não tivesse escolha
Ou não quisesse.
As crianças tem esses pressentimentos interiores.
Roxane então procurou Otávia,
Que parou de gemer e gritar.
Parecia desmaiada,
Estava imóvel,
Com o rosto opaco,
Os lábios sem vida.
Vanora começou a chorar,
Tão magra e pequena,
Roxane se apiedou
E lhe deu do seu próprio leite
Para tomar.
A menina sugou o seio
Com Roxane recostada
Na lateral do táxi,
Foi como se um ímpeto
De vida lhe disse soprado,
Ela não tardou a sorrir,
E buscar mais o mama.
Seus pequenos
Olhinhos escuros
Chamavam Roxane de mãe.
Roxane sorriu com ela nos braços.
- fique com ela!
Gritou Otávia
Do lado de fora do carro,
Correndo rua afora,
Como se não tivesse
Recém parido a criança.
Roxane assustou-se
E procurou Otávia
Dentro do carro,
Então percebeu
Que a própria, realmente,
Não estava lá,
Nem sua bolsa.
Isto, a princípio
Lhe soou o mais absurdo
Que já presenciou
Durante seus anos de taxista,
Entretanto, olhou para a criança
Em seus braços,
Assustou-se no início,
Depois, decidiu ama-la.
A colocou ao seu lado
No banco de passageiro
E dirigiu até sua casa,
Tirou o resto da noite
Para folgar,
Ela era mãe solteira,
Mas, isso não lhe interferia
Negativamente.
- Olá, nega.
Mais um bebê para você cuidar
Nas noites em que trabalho!
Ela disse,
Ao entrar para dentro
E beijar a testa da babá das crianças.
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