Os bosques nos arredores
Da cidade de Chapecó
Guardam neles
Histórias trágicas,
Desde seus inícios
Até a queimada de seu
Mais antigo tronco.
Mesmo o crepitar das chamas
Dos fogões de lenha
Dos cidadãos,
Confidenciam pra quem
Queira ouvir,
Poucos, contudo
Ousam falar em alta voz.
Nestas espessuras funestas
Muitos entraram vivos,
Outros já desfalecidos,
Dentro de seus troncos queimados
Há alma que entrega seus ossos,
Destes restos emergem flores
Desconhecidas de todo olhar.
Se estás árvores
Soubessem contar
Seus testemunhos
O tanto que suas águas
Conseguem entregar
Já causaria pânico.
Não há lugar mais medonho,
O ano de 2014 foi marcado
Por encontros de cadáveres
Sem rosto ou identidade,
Outros anos são silenciados.
Os soldados entram nestes bosques
Sem precaução,
Fazem destes lugares
Seu estande de tiros,
Miram pra acertar onde convir,
E se o tronco não reter a bala,
Que está venha a repousar
Em um corpo qualquer
De suas proximidades.
Nisto não há conflitos,
Quanto ao grau de seus óculos,
Visão desfocada
Ou empecilhos,
Um pente de munição dá solução.
Todavia, seu chão
É coberto por flores,
Belezas inigualáveis,
Palco para repouso de mulheres,
Ramos de folhagem
Caem tremeluzentes por troncos
Grossos que seguram dez bois,
Um guindaste não os derruba.
Raios de sol furam as copas
Das árvores aqui e ali,
No musgo de suas pedras
Repousam eventuais preciosidades,
Ora um anel com nome escrito,
Ora um documento de identidade,
Ora um rosto sem pele.
Os soldados adiantam -se
Por entre estás árvores,
As reconhecem como ninguém,
Lá poucos se perdem,
Os pássaros já os reconhecem.
Lá se caça javalis,
Mas, caem também homens
Aqui e ali.
O musgo e folhas suadas
Amortecem os passos
Dos que penetram estes bosques,
Nenhuma trilha se desenvolve
De início ao fim,
Há sempre uma estratégia,
Um meio de conduzir-se
Feito um labirinto de crimes
E chacinas.
Alguns são conduzidos
Pra lá dentro de uma viatura,
Se veem algemados
E jogados de joelhos nestas
Terras e lá encontram seu fim,
Coloca-se em relatório
“De passagem pela polícia”.
Ou nem.
De tempos em tempos
Encontra-se restos de fogueira
Por entre sua densidade,
Ou covas obscuras
Com corpos apodrecidos
Em suas entranhas.
Se os tempos são difíceis
O pau é o freguês.
De súbito os soldados
Sentiram o extremecimento
De quem está perto da presa,
Estava ali o bandido,
E ambos temiam a emboscada.
Ao avistar um farfalhar de folhas,
Ouviram uma respiração
Em meio ao arvoredo,
E o movimento de folhas não mentia,
Rapidamente, todos os soldados
Se reuniram ao redor da folhagem,
Fizeram um cercado
Com um círculo de espingardas
Engatilhadas na direção do movimento,
Cada qual com o dedo no gatilho,
O alvo na mira certeira
De poucos metros,
Apenas esperavam para metralha-lo
A voz do sargento,
E veio,
Veio num rugir reconhecido
E o dedo que estremecia ao ruído
Apertou com força e segurança,
Só depois afastou a folhagem
E os arbustos que aguentavam
O indivíduo,
Caído a sangrar por entre a moita
Estava o próprio sargento
Com os lábios abertos
Pelo grito de dor e lamento.
" Era alto que o senhor
Tinha que dizer sargento,
Não fogo."
Retrucou o soldado
Trêmulo por um sorriso
Que ameaçava seu rosto
E não tardou sair num rompante.
O soldado sem dizer palavra
Perdeu sua espingarda
Em meio ao conflito
E abandonou o corpo ferido
Do sargento ali mesmo,
Todos saíram de lá emudecidos.
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