- a guarda real?!
Chama a rainha Blanca,
Ao adentrar em seu quarto,
Deparou-se com o rei imóvel
Com um cacho de uvas
Dentro da boca,
Roxo e entalado.
Uma mulher nua
Enrolada em um lençol
Descia a janela,
Com um aceno de adeus
E um detestável sorriso
Em seus lábios.
A rainha levou a mão a testa
Tentando afastar
O sentimento de ódio,
Por encontrar outra traição do rei,
Contudo,
Desceu a mão aos lábios,
Desta vez,
Pareceu-lhe a última.
Moveu-se até o final da cama,
Tocou seus pés nus,
Ele estava enrolado
Em um cobertor de couro
Marrom.
Olhos abertos e cínicos,
Um aspecto de sorriso
Parecia lhe cobrir
O semblante,
Estava feliz,
Sentia-se realizado.
Chegou a guarda a porta,
Quatros homens vestidos
De armadura cinza,
Espada em mãos
Posicionaram -se na porta.
-como ajudamos,
Vossa Magestade Bianca?
Indagou Fausto.
- acudam o rei
Que está a desfalecer.
Dois guardas entraram
No quarto,
Tentaram buscar sinais vitais,
Retiraram as uvas de sua boca.
- parece envenenado, senhora?
Disse Ugolino.
- minha impressão é
Que afogou-se
Com as uvas.
Ela respondeu.
Quase que para si mesma.
Outros dois guardas
Foram chamar o médico.
Chegado este,
Depois de efetuado testes,
Verificou-se não haver meios
De salvar sua vida.
Foi feito o velório,
Enfeitado o salão interno
Para luto,
Deixando aberto os portões
Ao povo.
Uma extensa fila
De amantes se prostrou
Para prestigiar sua memória.
Enterrado o corpo,
Ela chorou a dor
De perder o esposo.
Quatro meses a correr
Os corredores
Usando preto,
Sem atrever-se a olhares,
Recebeu presentes
De inúmeros reinados vizinhos.
Ao recolher de sua empregada
Um buquê de flores
Com um cartão de condolências,
Estava parada em sua sala,
Quando retirou o cartão,
O ergueu sob o olhar para ler:
- ainda sofrendo, rainha?
Indagou um integrante da guarda real.
Ela retirou os olhos
Do cartão,
Deparou-se com Álvaro.
- sim, sofro a dor.
Lhe respondeu.
Ele aproximou-se dela,
Lhe estendeu a mão
Até sua face.
- me tenha para amparo,
Depois de ele ter lhe ofendido
A integridade física
Tantas vezes,
Eu consegui trabalhar arduamente
E passei a compor o corpo
Da guarda real interna do castelo
Com isso evitei que lhe ferisse mais,
Ou lhe causasse a morte.
Ela tocou sua mão quente.
Não respondeu.
- Há tanto que lhe amo,
Lhe admiro por sua integridade,
Não me afaste.
Lhe tenho em amor.
Ela aproximou-se
E o beijou sôfrega e apaixonadamente,
Depois, devolveu as flores,
Informando que naquele instante
Havia saído do luto,
E que estava para casar-se.
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