sábado, 17 de maio de 2025

Impedimento

 “meu filho,
Meu filho”.
Gritou minha mãe, Amparo
Se segurando nas grades
Da cela de presídio
Em que eu estava preso.
Suas pernas,
Cansadas do trabalho,
Vacilaram,
Ela não teve forças,
Teria caído,
Contudo,
Eu me virei para ela
Encarei o que fiz,
Vi nos seus olhos
A dor
Que nunca senti.
Ela chorava,
Se debruçava contra
As grades.
“Senhora,
Vou te pôr pra fora
Por perturbação
Ao sossego,
O que você acha que é?”
Gritou o agente prisional,
Lá de fora,
Vendo-a.
“Eu não sou nada, senhor,
Eu não sou nada
Sem meu filho,
Eu preciso abraça-lo, senhor “.
Ela gritava
 Com o pouco de voz
Que tinha,
Era pouco mais que um sussurro
Rouco afogando-se
Em lágrimas.
“Cala a boca,
Ou vai presa,
Vai responder crime,
Quem você acha que é?”
O agente retornou
Com voz alta e estridente,
Então, abriu a porta da sala
Onde ela estava,
Que tinha dentro outra grade,
Onde fechados,
Ambos estávamos.
Ele levantou a mão
Contra ela,
Olhou para seu rosto choroso,
Aprumou a mão
Levando a parte de trás
Fazendo vento contra
Seus cabelos
De mulher honesta
E trabalhadora.
“senhor,
Não bate em minha mãe,
Não,
Ela é honesta
E trabalhadora,
Senhor?”
Eu gritei alto,
Vendo ódio em seus olhos,
Eu não resisti ao embaraço
E dor extrema,
Me levantei da cadeira,
Algemado como estava,
Toquei as grades
Que me separavam dela
E as chacoalhei
Mostrando a força de um filho,
Que fechado por grades,
Contido por toda
Uma estrutura de tijolas,
Armas, gritos e socos,
Ainda é um filho.
“Senhor, não bate nela,
Ela sente saudades,
Me ama,
Senhor não bate nela”.
Três guardas
Entraram por dentro
Da minha sala,
Pelo lado direito a ela,
Que por sua vez,
Tinha outra porta
Para de tê-la,
Me seguraram,
Me puxaram
Com socos contra
Meu cabelo raspado
E mal cortado,
Conforme exigiram de mim.
Me puxaram com tanto ímpeto,
Que eu teria derrubado
Aquelas grades sobre nós,
Não soubesse que a colocariam
No mesmo lugar que eu,
Pelo crime que ela não fez,
Atitude que jamais teria
Ou me ensinou a ter.
“ Solta estás grades, vagabundo,
Solta estás grades
Filho da puta”.
Ele gritou
Cuspindo contra meu rosto.
“Minha mãe
Não é puta, senhor,
Ela é mulher direita”.
Eu gritei,
Erguido pelo cintura,
Tendi meus ossos comprimidos,
Esmagados por força bruta.
“ Tirei minhas algemas,
Sou inocente,
Preciso proteger minha mãe,
O que eu fiz,
O que eu fiz?”
Tive tempo de gritar
Já dentro da outra sala,
Vendo aquela porta se fechar
E me tirar minha mãe,
Depois só vi alguns socos
E o solo sujo contra meu rosto.

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