“Alô pai,
Com orgulho
Te comunico
Minha formatura.”
Conforme desligou
O telefone,
Ele jogou o chapéu
De formado para o céu.
Ligou o carro,
Aqueceu o motor
E acelerou,
Chegou no bar,
Parou.
“Hoje a rodada
É por minha conta,
Não me preocupo
Com estudos,
Não tenho mais provas.”
Ali iniciou a bebedeira,
Parou na balada,
Passam para muito
De meia-noite.
O pai acorda
Depois de seu primeiro sono,
Levanta,
Acende uma vela
Pede a Deus que interceda,
Que vigie e ampare
Seu filho.
A vela se apaga,
Será mau aviso?
Ele se ajoelha
E junta as mãos
Para o céu em prece.
O filho continua a beber,
Em meio a tantas latinhas,
Enche a boca
Com tudo que tem,
E cospe para a frente
Sem ver,
Cospe o líquido,
Cospe saliva
E algumas palavras
Na cara do amigo.
O rapaz já está embriagado,
Seu instinto
Para aturar garotos saturados,
Estourou na última cola da prova,
Acabaram as aulas,
Também acabou a moleza,
Agora vem a dureza.
Ele empurra o garoto
Que ainda tem bebida
Dentro dos lábios,
O rapaz cai de mal jeito,
Afoga-se no chão da balada,
A música não para,
As luzes ainda piscam
Em mil cores,
Ninguém o acode.
O amigo está dando seu
Segundo passo
Para se distanciar do outro
Que está engasgado,
A convulsionar no chão,
Então, retorna,
Olha para trás
E vê o outro a mercê do nada.
Seu pai,
Em casa eleva as mãos
Para o céu,
Acende outra vela
E cola a primeira
Para fazer chama
Mais intensa,
Ver se a prece se aligeira,
Se a oração consegue
Se intensificar...
Parece que Josué,
Lá na balada o ouve
E se apieda de seu filho
Paulo,
Ele retorna até o amigo,
Se abaixa e o ajuda.
Então, lhe oferece o ombro,
O carrega para fora,
Lhe oferece ar puro,
O garoto chora,
Por um minuto
Que não alcança seu fim,
No chão onde mais sonhou
Seu futuro promissor
Enquanto estava na classe
Da faculdade.
Ambas as chamas
Se apagam,
O pai não se cansa,
Reacende...
O filho não chama,
O pai não atende,
Mas o pai espera,
Não se adianta
Em buscar pelo filho
Que não quer ser encontrado.
Ele coloca o celular
Ao lado da vela,
Acrescenta uma terceira
Ao lado das outras,
Espera as horas,
Conta as chamadas.
Há o tempo dos normais,
E há o tempo dos pais,
As horas passam para ambos,
Mas os pais contam seus ponteiros
Em tempos vividos
Com os filhos.
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