segunda-feira, 26 de maio de 2025

Esperança de Vida

O trabalho de um operário
Das empresas agroindustriais
É difícil e competitivo.
Desde cedo
Se imagina que é o trabalho
Mais simples,
O ramo se assemelha
Ao rural,
“Quem não saberia
Cortar um frango?”
Disse-se o boato.
Desde cedo,
Vê-se a vovó
E a mamãe cuidar a galinha
No terreiro,
Depois, certo dia mata-la
Para fazer uma galinhada.
Quem vê o trabalho pronto,
Pensa que é simples,
Quem olha o outro fazendo
Pensa que sabe como fazer.
Nisto, não pratica-se,
Não se ajuda a vovó,
Nem a mamãe na pia.
Recordo meus dez anos,
Eu cheguei cansado
Da roça,
Fui ajudar papai a cortar lenha
Para puxar de carroça
Para fazer fogo
E aquecer-nos no maio frio.
A estação do calendário
Não nos mostra,
Mas o maio faz um frio
De cair geada.
Eu segurava o tronco seco,
Meu pai cortava com a motosserra,
- assim, pai?
Indaguei enquanto puxava
A madeira sobre um tronco caído,
Para lhe auxiliar.
- assim filho.
Agora deixa eu cortar
O caule mais grosso!
Ele falou,
Foi até o meio daquele eucalipto
E cortou tudo em pequenos troncos.
Depois, eu separava
Conforme tamanho,
Então, carregava na carroça.
Pedaços pequenos
Separados das toras maiores.
Os bois estavam ao lado,
Comendo a grama densa.
- traga os bois, filho.
Eu os peguei pela corda,
E os trouxe.
- me alcance a canga!
Eu fui até a canga
E peguei.
Ele encantou
E colocou na carroça.
A madeira estava toda carregada.
- Rahat, você acha
Que o trabalho da roça
Começa cedo?
Meu pai me pediu.
- não, pai.
Meio dia do dia eu tiro
Para ir a escola.
Eu aproveito pouco do tempo.
Eu respondi, olhando para Saul,
Meu pai.
Eu subi na carroça,
Ele também,
Peguei as cordas e guiei.
Estávamos na terra
Onde tinha um pequeno moro.
- você consegue descer aí filho?
Meu pai me pediu.
- sim, pai.
Por cima tem muitas pedras.
Eu respondi,
Encaminhei os bois.
A carroça fez um encalço,
A roda subiu sobre
Uma pedra grande,
Mas nossos bois
Eram fortes,
Ela passou a pedra resvalou
Sobre ela
E seguiu a estrada.
No caminho,
Havia uma cobra.
- veja a cobra?!
Meu pai gritou.
Ele era mais rápido
Que eu não questão
Ver cobras quando se tratasse
De eu estar perto.
O senso de responsabilidade,
Direção e carinho
De um pai se ativam
Junto a nós.
- eu não vi, pai!
Gritei, olhando para trás.
A cobra estava enrolada
Embaixo do limoeiro,
Deu o bote de lá,
E pulou sobre um dos cepos
De madeira.
- meu filho,
Meu Deus?
Meu pai gritou,
Pegou um cepo
E arremessou contra ela.
A matou com três batidas.
- o senhor é um velho
Forte pai,
Que sorte temos!
Eu gritei.
- sorte nada.
Eu estou quase cego
Preciso que você se prepare
Para conseguir trabalho,
A roça perdeu o futuro.
Meu pai disse,
Com uma das mãos
Sobre o rosto
Secando o suor que escorria
Sobre a lenha.
Chegamos a estrada principal,
Eu fiquei assustado,
Parei de cuidar as pedras,
A roda deu num encalço,
Caiu num pequeno buraco
De frente a uma pedra,
Eu bati nos bois,
Eles puxaram,
Aí caiu a roda.
Tombamos,
De carroça cheia de madeira,
Pesada de tanta lenha.
- meu pai?!
Eu gritei,
Quando a roda caiu,
E imediatamente a carroça
Começou a pender.
Quebrou o eixo da frente,
Eu acho.
Ou os bois se assustaram,
Mas, virou tudo.
Eu empurrei meu pai
Para trás,
Meio que o ergui
Com minha pouca força.
Ele se empurrou na beirada
E caiu em pé,
Contudo, bateu a canela
No lado da carroça.
Eu dei um salto
E pulei.
Muito mais ágil e jovem,
Com todo o vigor juvenil.
A madeira caiu no chão,
Rolou para o lado,
Mas os bois não feriram-se,
A canga também não quebrou.
Puxamos tudo nos braços,
Depois de amarrar os bois
No pasto ao lado da estrada.
Nisto, um rapaz que morava
Não muito distante,
Passou e jogou uma garrafa no boi
Contendo líquido:
- este homem sempre passa
E joga seus lixos...
Eu falei,
Com o peito arfante.
- sim, filho.
Infelizmente ele faz isso.
Saul me respondeu.
- tenho medo de que seja veneno.
Respondi.
Ele parou,
Olhou para o céu,
Baixou os olhos pro solo
E foi até o monte
De lenha caída no chão.
- filho, vamos levar nos braços.
Respondeu.
Ele juntou abaixado
O máximo de lenha
Que pode sobre um braço
E seguiu até o galpão.
Eu tentei pegar as toras
Mais grossas e levei-as,
Uma de cada vez,
Abraçado nela.
Deixado no galpão,
Separamos as mais finas,
Coloquei dentro de uma bolsa,
E levamos até nossa casa.
Depois, fomos retirar a carroça
Para o lado da estrada,
Levamos a roda, o eixo quebrado
Com a outra roda,
E os bois para o galpão,
Só então, fomos descansar.
Sentamos em frente ao fogão,
Pés erguidas sobre a caixa de lenha
Para nos aquecer,
Sentados em bancos de madeira.
Mamãe pegou a galinha
No terreiro,
Puxou o pescoço,
Pegou a água quente
E foi depenar.
Os cortes ficaram por conta
Da vovó.
Depois, tudo foi para a panela
Sobre a chapa de fogo ardente.
#
-ai, que dor.
Estou com dor.
Me vi falar,
Aos vinte anos,
Embasbacado,
Olhos vagos,
Como se tivesse
Uma cortina de fumaça
Sobre meu olhar.
Eu estava da direção
De um carro,
Todo dolorido,
Parecia que dormi.
Então, lembrei do rosto
Do meu pai
Naquele dia,
Vi minha avó lhe levando
A cuia de chimarrão,
Sua mão cansada
Pegando a cuia,
Seu sorriso de admiração.
Senti que meu coração
Começou a pulsar.
Olhei mais intenso,
Eu estava com um tronco
De arvore em meio
As minhas pernas,
Uma estava comprimida
Pelo tronco,
E sangrava.
Eu vi minha mãe sorrir
Para meu pai,
Vi minha avó pegar a cuia,
Encher novamente
Com a água de sobre o fogão,
E servir-lhe,
Entre desmaios
Vi seu sorriso afetuoso.
Senti um calor tomar meu corpo,
Levei a mão até embaixo
Do banco,
O empurrei para trás
O máximo que pude.
Com dor saí dali,
Sangrando,
Caminhei pra rodovia,
Eu estava a poucos metros
Fora dela,
Cheguei ao corrimão da rodovia
E sentei ali.
Depois olhei para trás,
Meu carro estava destruído,
Uma falta de fôlego
Me ganhou,
Vi minha avó encher a cuia
E me servir,
- sirva-se vó,
Eu espero.
Vi suas mãos enrugadas
Segurarem forte a cuia,
Vi seus braços fracos,
Vi seu pescoço cheio de rugas,
Vi seus lábios sorrirem.
Um sopro de calor
Me ganhou,
Depois, vi uma aranha
Saindo de dentro
Do meu carro
Pela porta aberta.
- ah, você.
Eu te vi na rodovia.
Eu me vi dizer.
Ela estava no meio do asfalto
Onde passei,
Eu passei sobre ela,
Sem feri-la,
As rodas passaram pelo lado.
Ela subiu no carro,
Naquele momento
Entrou por dentro,
De alguma forma
Pulou através do espaço
Do ar-condicionado...
E me picou,
Eu lembro de ela,
Tão imensa,
Pular contra meu peito.
Lá longe,
Eu vi a fumaça saindo
Da chaminé da empresa agroindustrial:
- meu Deus, será que eu chego até lá?
Eu indaguei,
Vi minha avó tomar
Seu chimarrão,
Vi minha cuia ser servida.
Imaginando-me
Ainda com a cuia em mãos,
Eu segui aquele asfalto,
Com fortes dores,
Sozinho,
Segui em direção a fumaça.
- eu vou conseguir.
Me vi dizer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Caso: Assassinato da Balconista

Aos vinte e cinco anos Não se espera a chuva fria De julho Quando se sai para o trabalho, Na calada da noite, Até altas mad...